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O que é um Demônio?

  • Foto do escritor: Leandro Andrade
    Leandro Andrade
  • 4 de mai. de 2020
  • 9 min de leitura

O que é um Demônio? - ESPECIAL SVMMA DAEMONIACA

Um demônio é um ser espiritual de natureza angélica condenado eternamente. Não tem corpo, não há em seu ser nenhum tipo de matéria sutil, nem nada semelhante à matéria, pois se trata de uma existência de caráter inteiramente espiritual. Spiritus, em latim, significa sopro, hálito. Uma vez que não têm corpo, os demônios não sentem a menor inclinação para nenhum pecado que se cometa com o corpo. Portanto, a gula ou a luxúria são impraticáveis para eles. Podem tentar os homens a pecar nesses campos, porém, só compreendem esses pecados de modo meramente intelectual, uma vez que não possuem sentidos corporais. Os pecados dos demônios, portanto, são exclusivamente espirituais.

Eles não nasceram maus, porém, depois de criados, foram submetidos a uma prova antes que lhes fosse oferecida a visão da essência da Divindade, pois viam a Deus, mas não viam Sua essência. Neste caso, o verbo ver é figurativo, já que a visão dos anjos é intelectual. Como, para muitos, será difícil compreender o fato de que puderam ver/conhecer a Deus, porém não ver/conhecer Sua essência, poderíamos exemplificar que eles viam a Deus como uma luz, que O ouviam com uma voz majestosa e santa, mas Seu rosto permanecia sem se revelar. De todo modo, mesmo que não penetrassem em Sua essência, sabiam que era seu Criador e que era Santo, o Santo entre os Santos.

Antes que penetrassem na visão beatífica dessa essência divina, Deus os pôs a prova. Nessa prova, uns obedeceram, outros, não. Os que desobedeceram de forma definitiva, tornaram-se demônios. Eles por si só se transformaram no que são. Ninguém os fez assim.

A psicologia dos anjos atravessou uma série de fases antes que eles se transformassem em demônios. Essas fases não aconteceram no tempo material, mas sim na eternidade (evo)1. Para os humanos, por se dar na eternidade (evo),

estas fases pareceram instantâneas. Porém, o que para nós parece breve, para eles, foi muito demorado. As fases de transformação de anjos em demônios foram as seguintes:

No início ficaram em dúvida se a desobediência à Lei Divina talvez fosse o melhor. Nesse momento, em que voluntariamente aceitaram ser uma opção a considerar a possibilidade de desobediência a Deus, já cometeram um pecado.

A partir daí, a aceitação da dúvida se constituiu um pecado venial, que pouco a pouco foi evoluindo para um pecado mais grave. Porém, nenhum deles, nessa primeira fase, estava disposto a se afastar definitivamente, nem mesmo o diabo.

Já mais tarde, assentou-se neles o que suas vontades haviam escolhido, apesar dos conselhos da inteligência, a qual lhes recordava que a desobediência era contra a razão. Suas vontades foram se afastando de Deus e, consequentemente, suas inteligências foram aceitando como verdadeiro o mal que haviam escolhido, consolidando-se no erro. A vontade de desobedecer foi se afirmando, fazendo-se cada vez mais profunda. Assim, suas inteligências passaram a buscar cada vez mais razões para que tudo se tornasse cada vez mais justificável.

Finalmente, esse processo os levou ao pecado mortal, que se deu em um momento concreto, por meio de um ato da vontade. Cada anjo, em determinado momento, não quis só desobedecer, mas, inclusive, optou por ter uma existência à margem da Lei Divina. Não era um esfriamento com relação

ao Amor de Deus, uma simples desobediência a algo que lhes fosse difícil de Evo: Significa a eternidade que é o tempo dos espíritos. Uma explicação mais detalhada aparecerá

mais adiante.aceitar; mas na vontade de muitos deles, encontrava-se a ideia de um destino

separado da Santíssima Trindade, um destino autônomo.

Os que perseveraram nesse pensamento e nessa decisão começaram um processo de justificação dessa escolha. Passaram a se autoconvencer de que Deus não era Deus. Ele era apenas mais um espírito. Até poderia ser seu Criador, porém n’Ele havia erros e falhas. Começaram a acalentar a ideia que havia surgido em seus pensamentos: a de uma existência separada de Deus e de

Suas normas. A existência separada de Deus aparecia como uma existência mais livre. As normas de Deus, a obediência a Ele e à Sua vontade, apareciam progressivamente como uma opressão.

Deus passava a ser visto como um tirano do qual deveriam se libertar. Nessa nova fase de distanciamento, já não buscavam simplesmente um destino fora de Deus, uma vez que Deus mesmo lhes parecia um obstáculo para alcançar a liberdade. Pensavam que a beleza

e a felicidade do mundo angélico seriam muito melhores sem um opressor. Por que haveria um espírito que se elevava sobre os demais espíritos? Por que sua vontade devia se impor sobre a dos outros espíritos? Por que uma vontade deve se impor sobre outras vontades? Devem ter pensado:

“Não somos crianças, não somos escravos!”. Deus já não era um elemento que tinham deixado para trás, mas que começava a se converter para eles em um mal. E assim começaram a odiá-l’O. O chamado de Deus para que estes anjos voltassem era visto como uma intromissão inaceitável. Nessa fase, o ódio cresceu mais em alguns espíritos e menos em outros.

Pode surpreender que um anjo chegue a odiar a Deus, porém deve-se compreender que Deus já não era visto por eles como um bem, mas como um obstáculo,uma opressão; Ele representava as cadeias dos mandamentos, a falta de liberdade. Já não era visto como Pai, mas como fonte de ordens e mandamentos. O ódio nasceu com a energia de suas vontades, resistindo continuamente aos chamados de Deus que, como um pai, os buscava. O ódio nasceu como reação lógica de uma vontade que tem de firmar-se na decisão de abandonar a casa paterna, para dizer em termos que sejam inteligíveis para nós. É como alguém que deseja sair de casa; no início quer apenas partir, mas se o pai o chama mais de uma vez, o filho acaba dizendo que o deixe em paz.

Deus os chamava, pois sabia que, quanto mais tempo suas vontades ficassem afastadas d’Ele, mais se afirmariam nesse afastamento. Contudo, muitos dos anjos que haviam se afastado, em um primeiro momento, voltaram. Essa é a grande luta nos Céus de que fala o Apocalipse 12:

“Houve então uma batalha nos Céus: Miguel e seus anjos guerrearam contra

o Dragão. O Dragão lutou, juntamente com os seus anjos, mas foi derrotado; e eles perderam seu lugar nos Céus. Assim foi expulso o grande Dragão, a antiga Serpente, que é chamado Demônio ou Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Ele foi expulso para a Terra, e os seus anjos foram expulsos com ele” (Ap 12,7-9).

Como os anjos podem lutar entre si? Se não têm corpo, quais armas foram usadas?

O anjo é espírito, o único combate que se pode travar entre eles é o intelectual. As únicas armas que podem usar são os instrumentos intelectuais. Deus enviava a graça a cada anjo para que voltasse à fidelidade e se mantivesse nela. Os anjos davam argumentos aos rebeldes para que voltassem à obediência. No entanto, os anjos rebeldes mostravam suas razões para fundamentar sua postura e introduzir a rebelião entre os anjos fiéis. Nessa conversação entre milhares e milhares de anjos, houve baixas de todos os lados: anjos rebeldes regressaram à obediência; anjos fiéis foram convencidos com a sedução dos argumentos malignos.

A transformação em demônios foi progressiva. Com o passar do tempo – a eternidade é um tipo de tempo – uns odiaram mais a Deus, outros menos.

Uns se fizeram mais soberbos, outros nem tanto. Cada anjo rebelde foi se deformando mais e mais em pecados específicos. Assim como, ao contrário, os anjos fiéis foram se santificando progressivamente. Uns se santificaram

mais em uma virtude, outros em outra. Cada anjo se fixou em um aspecto ou outro da divindade, amou com uma medida de amor. Por isso entre os anjos fiéis surgiram muitas distinções, segundo a intensidade das virtudes que praticaram. Cada anjo tinha sua própria natureza dada por Deus, porém, cada um se santificou numa medida própria segundo a Graça de Deus e a correspondência de Sua vontade. Exatamente o contrário ocorreu no caso dos demônios.

Cada um recebeu de Deus uma natureza, se deformou segundo seus próprios caminhos extraviados. Por isso, a batalha acabou quando cada um deles permaneceu enquadrado em sua postura de forma irreversível. Chegou um momento em que havia só mudanças acidentais em cada ser espiritual, cada demônio se manteve firme em sua imprudência, em seus ciúmes, em seu ódio, em sua inveja, soberba, em seu egoísmo…

A batalha havia acabado. Podiam seguir discutindo, disputando, exortando- se durante milhões de anos, para dizer em termos humanos, porém havia somente mudanças acidentais. Foi então que os anjos foram admitidos na presença divina e se deixou que os demônios se afastassem, que ficassem abandonados à situação de prostração moral que haviam escolhido para si.

Como se pode observar, não se trata de ter enviado os demônios a um lugar de chamas e aparatos de tortura, mas que fossem deixados como estavam, abandonados em sua liberdade, em sua vontade. Não foram levados a nenhuma parte. Eles não ocupam um lugar, não há onde levá-los. Não há instrumentos de tortura, nem chamas que possam atormentá-los, nem cadeias que os prendam. Tampouco os anjos fiéis entraram em algum lugar.

Simplesmente receberam a graça da visão beatífica. Tanto o Céu dos anjos como o Inferno dos demônios são estados. Cada anjo tem em seu interior seu próprio Céu, esteja onde estiver. Cada demônio, esteja onde estiver, leva em seu espírito seu próprio Inferno.

O momento em que não há como voltar atrás é quando um anjo vê a essência de Deus. Porque depois de ver Deus, já não poderá mudar de opinião, nem esconder a menor coisa que O ofenda, pois a inteligência assimilaria que esconder uma falta seria o mesmo que esconder esterco em frente a um tesouro.

Pecar, a partir de então, torna-se impossível. O anjo, antes de entrar nos Céus, compreendia Deus, compreendia o que era, imaginava Sua santidade, Sua onipotência, sabedoria, amor… Depois de

ser aceito para contemplar Sua essência, não só a compreende, como também a vê. Quer dizer, vê Sua santidade, Seu amor etc., se preenche de tal amor, de tal veneração, que jamais, por nada, quer se separar d’Ele. Por isso o pecado passa a ser impossível.

O demônio fica irremediavelmente ligado ao que escolheu, desde o instante em que Deus decide não insistir mais. Chega um momento em que Deus toma a decisão de não enviar mais as graças de arrependimento, pois Ele compreende que enviar mais graças só serve para que o demônio se assegure mais naquilo que sua vontade escolheu. Porque cada graça de arrependimento só

pode ser superada, só pode ser vencida, afirmando-se mais no ódio. Chega um momento em que Deus Amor dá as costas2 e deixa Seu filho seguir seu caminho. Deixa o demônio seguir sua vida separado.

Podemos dizer que não é de uma hora para outra que o anjo se transforma em demônio, já que se trata de um processo lento, gradual, evolutivo. Há um tempo certo em que o espírito angélico tem de tomar a decisão de desprezar ou não o seu Criador. Já foi dito que nesse processo pode-se voltar atrás, essa é a celestial batalha de que fala o Apocalipse (cf. Ap 12,7-9). Mas chega um momento em que os demônios se afastam cada vez mais. Não haveria sentido insistir. O Criador respeita a liberdade de cada um.

Portanto, o demônio é um anjo que decidiu ter seu destino distante de Deus e quer viver livre, sem amarras. Frequentemente, ele é representado em pinturas e esculturas de modo disforme, uma forma muito adequada de representá-lo, pois se trata de um espírito angélico deformado. Segue sendo anjo; somente sua inteligência e sua vontade são deformadas. A solidão interior em que permanecerá, por séculos e séculos, os ciúmes ao compreender que os fiéis gozam da visão de um Ser Infinito levam-no a reprovar seu próprio pecado mais uma vez. Como odeia a si mesmo, odeia a Deus, odeia aos que lhe deram razões para afastar-se.

Mas nem todos sofrem igualmente. Durante a batalha, uns anjos se deformaram mais que outros. Aqueles que mais sofrem são os que mais se deformaram. Porém, é necessário recordar novamente que essa é uma deformidade da inteligência e da vontade.

A inteligência está deformada, obscurecida pelas mesmas razões que justificou seu caminho, sua libertação. A vontade impôs à inteligência sua decisão, e a inteligência se viu impelida a justificar tal decisão. A inteligência funcionou como um mecanismo de justificação, de argumentação daquilo que a vontade a estimulava aceitar. Como se vê, o processo tem uma extraordinária semelhança com o processo de aviltamento dos humanos. Não esqueçamos que nós, humanos, somos um espírito em um corpo. Se nos omitimos diante dos pecados relativos ao corpo, sofreremos o mesmo processo interno que leva uma pessoa boa a acabar na máfia, ou a tornar-se um soldado num campo de concentração ou um terrorista. Em princípio, o conceito de pecado, de tentação, de evolução da própria iniquidade é igual tanto no espírito angélico como no espírito do homem. Os pecados humanos são sempre pecados do espírito, ainda que os cometa com o corpo, já que este é tão somente um instrumento daquilo que o espírito decide com seu livre- arbítrio.

Assim como um menino atravessa um período da infância, o anjo que acaba de ser criado não tem experiência. O ser humano tem tentações com outras pessoas, e os anjos também as têm. O homem pode pecar por ideais tais

como a pátria, a honra da família, o bem-estar de um filho. O espírito angélico também tem por trás de si grandes causas, que, mesmo sendo distintas das humanas, presumem uma complexa correlação angélica de todo esse mundo humano que conhecemos.


 
 
 

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